VAIAS DA COPA
Juro que fiquei pasmado com as vaias aplicadas ao
Presidente da FIFA e, em seguida, à Presidenta Dilma, sábado, durante a
abertura da Copa das Confederações.
No princípio eu não entendi, e quase que concordei com o
Blatter quando, indignado, disse, mas nem foi ouvido, que aquilo era uma falta
de respeito e de fair play.
Eu então me perguntei: - Repeito a que? Fair play a quem?
Respeito a uma Organização mundial que, a título de
promover o futebol, e arrecadar bilhões de dólares, sequestra bilhões de reais
em obras faraônicas que ficarão erguidas como monumentos, ao desrespeito ao
dinheiro público, por todas as gerações futuras?
Fair play a um Estado que tem aplicado de forma desregrada os
recursos arrecadados em impostos – os mais altos do mundo, por sinal –, priorizando
e privilegiando mais o privado, em detrimento às necessidades reais do povo:
saúde, educação, transportes e segurança pública?
Na verdade os estádios foram feitos, a qualquer preço, a qualquer custo, para atender os prazos, cobrados, acintosa e agressivamente, por segundos escalões da FIFA, em detrimento à infraestrutura que poderia vir a beneficiar milhares de brasileiros, as quais nem se sabem se ficarão prontas para a Copa do Mundo em 2014.
As vaias não foram para o país, foram para os legítimos
representantes das Entidades que geriram e estão gerindo, de forma
irresponsável, os recursos dos brasileiros, os quais, nada mais estão, senão demonstrando
a sua indignação de forma clara e objetiva.
As vaias foram deselegantes sim, mas foram públicas,
espontâneas, legítimas e democráticas. O que se ouviu no Mané Garrincha foi a
autêntica voz do povo, que está aprendendo no grito, o que deverá fazer nas
urnas. Foi a voz do povo brasileiro que tem estado calada e cordata há muito
tempo – desde o Fora Collor! –, a
despeito de tantos desmandos, escândalos e roubalheiras.
Um povo que não está, nem nunca esteve, indignado com a
maior distribuição de renda jamais vista neste país, mas que está sendo feita,
de qualquer forma, para o benefício dos mais pobres e mais necessitados, via:
bolsas família, bolsa educação, e outras tantas bolsas. Isso o povo vê e
aprova!
Mas é um povo que tem o direito de ficar indignado sim, com
a enorme concentração de renda nas mãos de uns poucos políticos, e outros investidos em
cargos públicos, locupletando-se do dinheiro público em negociatas e mensalões.
Isso o povo vê e agora vaia!
Um povo que tem certeza que parte destes bilhões de reais
que já foram gastos nas obras da Copa, e dos que ainda serão aplicados, mais de
50% foram, estão sendo e serão desviados ou, na melhor das hipóteses, vão
acabar no ralo do desperdiço e da ineficiência, a exemplo de quase todas as
obras do PAC.
Este Povo que é o legítimo dono do que é Público e que,
aliás, tinha e tem o direito inalienável de expressar a sua indignação, seja naquele
exato momento, único e derradeiro, para ser ouvido por todo o mundo, seja nas
ruas protestando contra a merreca de R$ 0,20 de aumento nos transportes
públicos.
Nada mais que apenas uma motivação, para expressar toda indignação que veem se acumulando ao longo destes tantos anos de demagogia e desmandos.Foi apenas a gota d'água num oceano de insatisfações.