terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Escravo do tempo

ESCRAVO DO TEMPO


Mais um dia amanhece,
E com ele renasce o sol,
Renasce a esperança!

O tempo passa:
Contando as horas,
Esgotando a vida!
Lenta e
Continuamente...
Vagarosa e
Inapelavelmente!

Não há como estancá-lo,
Ele se esssssvaiiiiii...
Rumo ao futuro.

E eu aqui, me curvo:
Passageiro da vida,
Admirador do sol,
Escravo do tempo!
Envelhecendo...

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

O viúvo

VIÚVO

Seu Joaquim morava há muitos anos naquela cidade.
Foi carteiro, contador, fiscal do trabalho e consultor.
Rico não ficou, algum dinheiro guardou, vivia com humildade.
Uma vida inteira à família (mulher e quatro filhos) se dedicou.

Era esta a riqueza que tinha, tudo que mais amou.
Os filhos foram crescendo e a vida lhes chamou.
Casados, estão vivendo, muito longe daquele lugar.
Os meninos, hoje doutores, não têm tempo pra visitar.

E os anos vão passando, fica a saudade a calejar.
No ano passado, depois de muito sofrimento,
Mais que um caco de homem, se enviuvou.
Calado, ressabiado, sua mulher ao túmulo levou.

Na solidão de casa, cansado, calado, sem lamentos,
Por seis longos meses, solitário, enlutou...
Uma vida inteira vivida ao lado da companheira,
Tanta lida, quanta prosa, muita luta, de feira a feira.

Mas a morte tão cabreira, não lhe deixou escapar.
Foram tempos de sofrimento e muita desorientação,
Passava noite e dia, prostrado, em total desolação.
Pedia o tempo todo pra famigerada morte lhe levar...

Um dia acordou bem cedo, com nova disposição,
Abriu portas e janelas da casa, pro sol finalmente entrar.
Vestiu roupa nova, colorida, e ao centro foi passear.
A todos cumprimentava com alegria e prazer.

Estava comunicativo, confiante, pois sabia o que fazer.
Passou na Igreja da Gloria, ajoelhou pra rezar.
Deixou esmola no cesto, pro Santo não reclamar.
Entrou no bar do seu Pedro, vazio, ainda ao leu,

Pediu um tira-gosto quentinho e uma pinga com mel.
Saiu muito apressado e foi ao banco sacar
Todo o dinheirinho que, ao longo dos anos, conseguira juntar.
Vendeu a casa, o carro e todo o gado que criava,

Lá no fundo do quintal. Nada ficou, nada mais sobrava...
Comprou uma Harley-Davidson, que você precisa ver,
Virou aventureiro, quer muitos lugares conhecer. 
Dizem que pelo mundo inteiro, anda a viajar.

Que não fica muito tempo, que não esquenta lugar.
Mas vamos esperar que ele volte, num dia destes assim,
E lá no bar do seu Pedro, entre um tira-gosto e uma pinga,
Nos possa revelar, o segredo deste novo Joaquim.


terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Noivado surpresa


Noivado surpresa 

Chegou cedo à casa da namorada, naquela cidade do interior, como fazia toda semana, há quase um ano.
Tomou lá o café da manhã e namorou até às onze horas, hora da pelada com os amigos.
Após a pelada, de lei, é tempo de jogar papo fora, tira gosto e cerveja, muita cerveja...
Lá pelas duas da tarde, um dos peladeiros falou:
- Quer dizer que você vai ficar noivo hoje à noite?
- Eu? Balbuciou inseguro.
- É o que estão falando aí. O padrinho dela chegou do Rio trazendo as alianças...
Despediu da turma, pegou o carro e foi pensando:
- Era aniversário da garota, a casa ia estar cheia de gente, hora perfeita.
Quando chegou à casa da namorada, deu de cara ao o padrinho dela, que chegara do Rio.
Gaguejou uma desculpa que havia esquecido a mochila no clube e voltou correndo para o carro.
Nunca mais voltou àquela cidade do interior.
Não quis ficar para comprovar a estória.