segunda-feira, 9 de junho de 2014

Consolo

Consolo

Sei como me dói esta ferida,
Dor aguda, teimosa, reticente...
Não foi dada em verso, mas em vida
E eu a recitei diuturnamente. 

As dores de um primeiro amor,
São as mais difíceis de vencer.
Mas se até esta dor passou,
O que mais eu posso querer.

Passo a passo sigo em frente,
Suporto firme esta corrente,
Que me amarra, agarra e prende.
Cada elo, aos poucos, é desfeito:
Ficam as cicatrizes na pele e da mente,
E me revelam um pouco menos imperfeito.
  

terça-feira, 25 de março de 2014

Papel em branco

Papel em branco


Aqui, agora, sou eu e um papel em branco.
De onde virá uma inspiração qualquer?
Entre o tema e o tempo, paira o espanto.
Entre a estética e a forma, o que aprouver...

Como que envolto em pesado manto,
A palavra é fugidia, haja o que houver.
Por tempos escondida, como por encanto,
Brota do fundo, livre, solta a escolher.

Não há como estancar, pois como bolhas,
Que do abismo mar se fazem desprender,
Rumo à superfície, céleres se transportam.

É como, das copas das árvores, as folhas,
Que o outono faz dos galhos escorrer,
Forrando o chão, em adubo, se transformam!

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Escravo do tempo

ESCRAVO DO TEMPO


Mais um dia amanhece,
E com ele renasce o sol,
Renasce a esperança!

O tempo passa:
Contando as horas,
Esgotando a vida!
Lenta e
Continuamente...
Vagarosa e
Inapelavelmente!

Não há como estancá-lo,
Ele se esssssvaiiiiii...
Rumo ao futuro.

E eu aqui, me curvo:
Passageiro da vida,
Admirador do sol,
Escravo do tempo!
Envelhecendo...

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

O viúvo

VIÚVO

Seu Joaquim morava há muitos anos naquela cidade.
Foi carteiro, contador, fiscal do trabalho e consultor.
Rico não ficou, algum dinheiro guardou, vivia com humildade.
Uma vida inteira à família (mulher e quatro filhos) se dedicou.

Era esta a riqueza que tinha, tudo que mais amou.
Os filhos foram crescendo e a vida lhes chamou.
Casados, estão vivendo, muito longe daquele lugar.
Os meninos, hoje doutores, não têm tempo pra visitar.

E os anos vão passando, fica a saudade a calejar.
No ano passado, depois de muito sofrimento,
Mais que um caco de homem, se enviuvou.
Calado, ressabiado, sua mulher ao túmulo levou.

Na solidão de casa, cansado, calado, sem lamentos,
Por seis longos meses, solitário, enlutou...
Uma vida inteira vivida ao lado da companheira,
Tanta lida, quanta prosa, muita luta, de feira a feira.

Mas a morte tão cabreira, não lhe deixou escapar.
Foram tempos de sofrimento e muita desorientação,
Passava noite e dia, prostrado, em total desolação.
Pedia o tempo todo pra famigerada morte lhe levar...

Um dia acordou bem cedo, com nova disposição,
Abriu portas e janelas da casa, pro sol finalmente entrar.
Vestiu roupa nova, colorida, e ao centro foi passear.
A todos cumprimentava com alegria e prazer.

Estava comunicativo, confiante, pois sabia o que fazer.
Passou na Igreja da Gloria, ajoelhou pra rezar.
Deixou esmola no cesto, pro Santo não reclamar.
Entrou no bar do seu Pedro, vazio, ainda ao leu,

Pediu um tira-gosto quentinho e uma pinga com mel.
Saiu muito apressado e foi ao banco sacar
Todo o dinheirinho que, ao longo dos anos, conseguira juntar.
Vendeu a casa, o carro e todo o gado que criava,

Lá no fundo do quintal. Nada ficou, nada mais sobrava...
Comprou uma Harley-Davidson, que você precisa ver,
Virou aventureiro, quer muitos lugares conhecer. 
Dizem que pelo mundo inteiro, anda a viajar.

Que não fica muito tempo, que não esquenta lugar.
Mas vamos esperar que ele volte, num dia destes assim,
E lá no bar do seu Pedro, entre um tira-gosto e uma pinga,
Nos possa revelar, o segredo deste novo Joaquim.


terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Noivado surpresa


Noivado surpresa 

Chegou cedo à casa da namorada, naquela cidade do interior, como fazia toda semana, há quase um ano.
Tomou lá o café da manhã e namorou até às onze horas, hora da pelada com os amigos.
Após a pelada, de lei, é tempo de jogar papo fora, tira gosto e cerveja, muita cerveja...
Lá pelas duas da tarde, um dos peladeiros falou:
- Quer dizer que você vai ficar noivo hoje à noite?
- Eu? Balbuciou inseguro.
- É o que estão falando aí. O padrinho dela chegou do Rio trazendo as alianças...
Despediu da turma, pegou o carro e foi pensando:
- Era aniversário da garota, a casa ia estar cheia de gente, hora perfeita.
Quando chegou à casa da namorada, deu de cara ao o padrinho dela, que chegara do Rio.
Gaguejou uma desculpa que havia esquecido a mochila no clube e voltou correndo para o carro.
Nunca mais voltou àquela cidade do interior.
Não quis ficar para comprovar a estória.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Natal presente

Natal presente


Natal é tempo de troca.
Troca de afagos, de presentes.
Mas, deveria ser de fato,
Tempo de ser mais presente.
Natal é tempo de zelo.
Zelo com os familiares, com os amigos.
Não se esqueça de olhar no espelho,
Quem de zelo se faz preciso.
Natal é tempo de agradecer.
Agradecer o trabalho, a vida.
As pessoas que nos são presentes,
As oportunidades, tanta guarida...
Mas também, agradecer por
Acontecimentos inesperados,
A fadiga, as perdas, até a dor.
Mas é preciso esclarecer:
Se o que é bom, nos conforta,
Desperta estima, até amor,
O que não é assim tão bom,
Nos faz, no mínimo, amadurecer!


Feliz 2014 para todos que visitam o meu blog!

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Cotidiano

COTIDIANO


Acordamos todos os dias
E nem lembramos dos nossos sonhos.
Levantamos todos os dias
Como se não fossem diferentes.
Fazemos as mesmas coisas:
Do mesmo jeito,
Da mesma maneira.
Tomamos, apressados e frio,
O café com pão nosso, de cada dia.
Saímos então assustados,
Para uma paisagem frequente:
Ruas cheias, muita gente.
Rostos carrancudos, estressados,
Alguns poucos, sorrindo.
Outros tantos, preocupados!
Vamos caminhando lado a lado,
Convivendo, convindo.
Acostumados,
Com o cotidiano,
Entalados.
Encurralados!
Cada um por si, buscando espaço,
O lugar nosso, a nossa vez.
Vamos caminhando no mundo,
Chegando a um lugar qualquer,
Nem sempre quando se quer,
Raramente por prazer.
Rotina tecida de mesmices,
Que nem nos permitimos abordar.
Passa o tempo, voam as horas...
Finda o dia!
Tá na hora de voltar.
Retornamos pro mesmo lugar.
Nem sempre com o mesmo querer.
Nem sempre com alguém a esperar.
E na frente da tevê,
Revemos as cenas do profano,
Estórias do cotidiano,
Que acabamos de conviver.
Espantados.
Enfadados.
Até de novo adormecer.
E sonhar...
Acordamos no outro dia
E nem lembramos dos nossos sonhos...

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Tempo de sonhar

TEMPO DE SONHAR


Temo pelo tempo tão escasso.
Velo pela vida, tantos sonhos...
São tantos planos que faço,
Que tão poucos anos
Não me bastam!

Temo pela vida tão escassa.
Velo pelos planos que faço...
São tantos sonhos, sonhados,
Que tão pouco tempo
Não me basta!

Temo pelos planos tão escassos.
Velo pelo tempo que me resta...
São tantas vidas pra viver,
Que tão poucos planos
Não me bastam!

Sonhos e planos 
Tão cheio de ilusões, 
E minha vida traçam.
Que tão frágeis, 
Como o tempo,
Se esvaem...
Passam!