quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Acostumando

ACOSTUMANDO.


Aos poucos vamos nos acostumando...
Vamos vendo, vamos olhando,
Como se olhássemos sem ver,
Até vendo, mas sem perceber...
Mirando uma paisagem descolorida
Sem muito brilho, sem muita luz.
Como se não fosse a própria vida,
E carregássemos, dos outros, a cruz.
Pagando até um alto preço,
Para somente ter o direito,
De sobreviver...

Vamos vivendo no mesmo lugar,
Na mesma rua, no mesmo andar.
Lendo os mesmos jornais.
Ouvindo uma mesma voz falar,
Sempre as mesmas notícias,
Vindas das mesmas fontes,
Contaminadas de vida cotidiana,
Sempre no mesmo tom,
Na mesma sintonia,
Os mesmos canais de televisão:
Desastres, mortes, agonia,
Guerras, conflitos, apostasia,
Drogas, roubos, corrupção...

Impregnados de lixo, luxo e informação,
Vamos vivendo estórias alheias,
Vestindo grotescas fantasias,
Recitando textos sem emoção!
Somos atores, encenando na cochia,
Uma sinfonia longa e dolorida.
E nem somos os coadjuvantes,
Pois somos nós, protagonistas!
É sofrimento inocente.
Cordeiros: pacíficos e indulgentes.
São mostras fundas da miséria,
Instalada dentro da gente.
Revelando a nossa incapacidade,
De transmutar esta realidade,
Com nossas próprias mãos.

E seguimos em frente, calados,
Ano pós ano, dia pós dia,
Lascivamente acostumados...
Sabendo que não devia!

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