terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

A festa de casamento


A festa de casamento


      Estávamos todos reunidos em um grande salão de um hotel na cidade de Ubá, Minas Gerais. Era um hotel estilo barroco cheio de pompa e grandiosidade, típico das antigas cidades mineiras.
      O salão estava organizado como para um jantar festivo. Ao fundo via-se um pequeno palco composto por um parlatório, mesa e cadeiras de apoio. Um telão ao fundo. Garçons vestidos a caráter serviam bebidas e salgadinhos por entre as mesas.
      O clima era de cordialidade com um toque sutil de formalidades, provavelmente pelo pouco conhecimento e convívio das famílias ali reunidas.
      A maioria das mesas estava ocupada por uma tradicional família da cidade, dos velhos aos jovens todos em clima de festa.
      As duas últimas mesas que sobravam foram ocupada por mim, minha esposa, minha filha, seu noivo e, pelos meus três filhos e noras.
      Era uma reunião – pasmem – para se discutir a festa de casamento da minha filha. Impressionante: ela havia conhecido o rapaz durante o carnaval e estavam marcando o casamento já para o domingo da Páscoa.
      Tomou a palavra o dono do bufê organizador do evento. Fez uma apresentação impecável dos principais eventos que havia organizado, tanto na cidade de Ubá, como em outras cidades como Juiz de Fora, São João del-Rey, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, etc. Apresentou vídeos dos eventos e de entrevistas com contratantes do bufê, sobre a qualidade e satisfação com os seus serviços.
      A seguir apresentou a proposta executiva para o evento em questão, detalhando a cerimônia que seria realizada na Catedral de São José, as músicas que seriam executadas durante o evento – com a participação do coral e orquestra de São João del-Rey –, bem como projetou, em fotos, os grandiosos arranjos que comporiam a decoração do interior daquela igreja.
      Explicou que o cerimonial previa que o pai da noiva deveria se vestir, a caráter, como motorista, de bonezinho e tudo, com um detalhe, de máscara (não sei por que); acompanharia a noiva somente até a porta da igreja, o trajeto até o altar ela o faria grandiosamente sozinha.
      Chegou-se então à recepção que seria realizada naquele maravilhoso salão de festas do Hotel. Apresentou então os croquis da decoração imaginada por eles, onde não faltaram detalhes dos arranjos florais para as mesas, espelhos, jarros, taça e copos de cristais, cascata de vinho e outros tantos mimos. Finalmente detalhou que os comes-e-bebes seriam oferecidos numa ilha gastronômica composta de uma variedade de canapés quentes e frios: o jantar, de massas e carnes, seria servido à meia noite. As bebidas que incluíam wisckys importados, vinhos e champagnes franceses, coquetéis etc, seriam servidos, pelos garçons, mesa a mesa.
      Informou que o hotel estaria com todos os seus 26 apartamentos reservados para os convidados que se deslocariam de outras cidades.
      Seria de fato uma festa daquelas inesquecíveis. Principalmente para mim.
      Neste exato momento foi franqueada a palavra para que os presentes fizessem perguntas e obtivessem maiores explanações acerca do que havia sido apresentado. O alarido foi geral, pois surgiam muitas perguntas sugestões e palpites. O tal dono do bufê aproveitou o intervalo, pois que colocou outros funcionários para responder as perguntas e se dirigiu à minha mesa.
      Cumprimentou a todos que lá estavam, se assentou, sem ter sido convidado, e me entregou uma pasta de documentos que continha: contrato de prestação de serviço e três cheques já devidamente preenchidos, cada um no valor de R$ 33.250,00, todos datados de 15 de março de 2013. O segundo bom para 15 de abril e o terceiro, bom para o dia 15 de maio.
      Intrigado, lhe perguntei quem havia contatado a sua empresa e feito os arranjos para aquela reunião. Assustado e constrangido ele me informou que havia sido convidado pela família do noivo, claro, pois já eram conhecidos de longa data, etc, etc.
      Retirei os cheques da pasta e a devolvi ao ilustríssimo senhor. Ao seu ouvido, falei em alto e bom tom:
- Entregue a pasta a quem lhe pediu o serviço. Acho um pesadelo este casamento. Mas felizmente não estou disposto a financiar algo tão grotesco.  
      O constrangimento foi geral.
      Menos de 10 minutos depois, e o salão estava praticamente vazio. Restávamos eu e a minha família.
      Até o rapaz sumiu!
      Não haveria mais casamento.
      Assustado eu acordei: eram 4 e15 da manhã.
      Era mesmo um pesadelo. Ainda bem!



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