A festa de casamento
Estávamos todos reunidos em um grande
salão de um hotel na cidade de Ubá, Minas Gerais. Era um hotel estilo barroco cheio
de pompa e grandiosidade, típico das antigas cidades mineiras.
O salão estava organizado como para um
jantar festivo. Ao fundo via-se um pequeno palco composto por um parlatório, mesa
e cadeiras de apoio. Um telão ao fundo. Garçons vestidos a caráter serviam
bebidas e salgadinhos por entre as mesas.
O clima era de cordialidade com um toque sutil
de formalidades, provavelmente pelo pouco conhecimento e convívio das famílias
ali reunidas.
A maioria das mesas estava ocupada por uma
tradicional família da cidade, dos velhos aos jovens todos em clima de festa.
As duas últimas mesas que sobravam foram
ocupada por mim, minha esposa, minha filha, seu noivo e, pelos meus três filhos
e noras.
Era uma reunião – pasmem – para se
discutir a festa de casamento da minha filha. Impressionante: ela havia
conhecido o rapaz durante o carnaval e estavam marcando o casamento já para o
domingo da Páscoa.
Tomou a palavra o dono do bufê organizador
do evento. Fez uma apresentação impecável dos principais eventos que havia
organizado, tanto na cidade de Ubá, como em outras cidades como Juiz de Fora, São
João del-Rey, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, etc. Apresentou vídeos
dos eventos e de entrevistas com contratantes do bufê, sobre a qualidade e
satisfação com os seus serviços.
A seguir apresentou a proposta executiva
para o evento em questão, detalhando a cerimônia que seria realizada na
Catedral de São José, as músicas que seriam executadas durante o evento – com a
participação do coral e orquestra de São João del-Rey –, bem como projetou, em
fotos, os grandiosos arranjos que comporiam a decoração do interior daquela
igreja.
Explicou que o cerimonial previa que o pai
da noiva deveria se vestir, a caráter, como motorista, de bonezinho e tudo, com
um detalhe, de máscara (não sei por que); acompanharia a noiva somente até a
porta da igreja, o trajeto até o altar ela o faria grandiosamente sozinha.
Chegou-se então à recepção que seria realizada
naquele maravilhoso salão de festas do Hotel. Apresentou então os croquis da
decoração imaginada por eles, onde não faltaram detalhes dos arranjos florais
para as mesas, espelhos, jarros, taça e copos de cristais, cascata de vinho e outros
tantos mimos. Finalmente detalhou que os comes-e-bebes
seriam oferecidos numa ilha gastronômica composta de uma variedade de canapés quentes e frios: o jantar, de massas e carnes, seria servido à meia
noite. As bebidas que incluíam wisckys importados, vinhos e champagnes franceses,
coquetéis etc, seriam servidos, pelos garçons, mesa a mesa.
Informou que o hotel estaria com todos os seus
26 apartamentos reservados para os convidados que se deslocariam de outras
cidades.
Seria de fato uma festa daquelas
inesquecíveis. Principalmente para mim.
Neste exato momento foi franqueada a
palavra para que os presentes fizessem perguntas e obtivessem maiores explanações
acerca do que havia sido apresentado. O alarido foi geral, pois surgiam muitas
perguntas sugestões e palpites. O tal dono do bufê aproveitou o intervalo, pois
que colocou outros funcionários para responder as perguntas e se dirigiu à
minha mesa.
Cumprimentou a todos que lá estavam, se
assentou, sem ter sido convidado, e me entregou uma pasta de documentos que
continha: contrato de prestação de serviço e três cheques já devidamente
preenchidos, cada um no valor de R$ 33.250,00, todos datados de 15 de março de
2013. O segundo bom para 15 de abril e o terceiro, bom para o dia 15 de maio.
Intrigado, lhe perguntei quem havia
contatado a sua empresa e feito os arranjos para aquela reunião. Assustado e
constrangido ele me informou que havia sido convidado pela família do noivo,
claro, pois já eram conhecidos de longa data, etc, etc.
Retirei os cheques da pasta e a devolvi ao
ilustríssimo senhor. Ao seu ouvido, falei em alto e bom tom:
- Entregue
a pasta a quem lhe pediu o serviço. Acho um pesadelo este casamento. Mas
felizmente não estou disposto a financiar algo tão grotesco.
O constrangimento foi geral.
Menos de 10 minutos depois, e o salão
estava praticamente vazio. Restávamos eu e a minha família.
Até o rapaz sumiu!
Não haveria mais casamento.
Assustado eu acordei: eram 4 e15 da manhã.
Era mesmo um pesadelo. Ainda bem!
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